quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Minhas anotações bagunçadas de saudade.






Dobrando papéis 

     
                                           pra poupar minhas unhas, de tão roídas que estão. 

             Só. 


                   Pra driblar os dias em que não te vejo. 


                          Encontrar distração e não morrer de amor, daqui pro final da semana. 


  Daqui pros teus olhos é um pulo. 

                                                
                                                Nos teus braços. 

   Quase um absurdo, 


                                     como dissertar sobre um tiro no escuro que deu certo demais. 


                                                                                                                                      Proximidade distante. 



     Já que meu coração é tua casa 

                                                           
                                                    e o que nos separa são dois quarteirões. 



sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Das coisas que deveria dizer, antes de te ver ir embora.





Talvez eu não queira me acomodar, mas como agir diante do conforto da minha solidão macia, de menina com voz de silêncio abafado, com bafo de mofo que repele os outros até quando não quer? Peço licença, pois se me inclino é pra alcançar as palavras que ainda me são esquivas. Na danação da minha vida, escapam escorregadias através dos dedos. Se me falta papel, me sobram as entraves ao tentar dizer. Até movimento os músculos orofaciais, mas o gelado da língua afundada na boca não favorece a tentativa. Naufragam todas as minhas falas, quando teus olhos, teimosos que são, ancoram nos meus.

De que outra forma evidenciaria, que meu coração sedado pelas tuas chegadas, vai te gritando rouco por todos os cantos da cidade, enquanto resiste roto pelas tuas esperas? Me aguarda o amor, e junto com ele o pavor da vulnerabilidade. Mas se nenhuma espera é vã, então devo mesmo é guardar o pavor pra mais tarde, pra uma outra ocasionalidade, ao invés de atirá-lo violento pra dentro dos teus braços, espatifando futuros abraços, como quem não quer amor nenhum. Sou toda ao contrário, por isso tenho procurado contornar os meus avessos, como quem ensaia na frente do espelho, um apelo mudo pra não te fazer desistir.

Tantos anos esperando a boca, que me tirasse o gosto de palavra que se perdeu. Só quem prova sabe, quão trabalhoso é tirar o azedo de papilas gustativas habituadas à ilusão. Depois de todo esse esforço, agora que (re)encontro teu gosto, ainda me faço de tola, pra depois soltar reclamações sobre o pavor em te perder. Contraditória, a mesma mente que trabalha na tentativa de ser concisa, ativa no corpo o modo de saudade de arder junto ao teu.

Ainda é cedo, encosto a cabeça no teu seio esquerdo. No que permaneço com o nariz sob teu queixo, te sinto respirar como quem gostaria de inalar todo o ar dos teus pulmões. Passado o descontentamento, transponho meus olhos das brigas tão comuns, experimentando uma felicidade maciça, talvez masoquista, de quem admite o gozo no deletério do amor. Acreditando que posso tentar te ensinar a procurar minhas vontades escondidas, por detrás dessas constantes mudanças de humor.




domingo, 30 de setembro de 2012

Tua carta.






Enquanto te escrevo já não me escapo, não existe nenhum espaço onde eu possa caber, tamanha a vergonha iminente de te fazer infeliz. Quem me dera  rasgar as palavras suspensas latejando em ti, usando caneta, papel e cola. Grudar uma aquarela nos intervalos de nós dois, pra em seguida retirar o cinza das palavras inflamadas. Por isso sigo encostada no papel, pra não correr o risco de nos tropeçar falando. Sem modos de te pedir favores, ainda me atrevo a nos arredar com calma pro amor passar, carregando todo o peso da memória e levando nosso cansaço pra passear, só mais essa vez.


Antes, talvez, existisse o susto. A insistência alva dessa tua imagem pregada, na parede negra dos meus olhos fechados.  Sim, digo ''antes'' porque o agora é outro, os anos bem que podem ser de ouro, amor, se a gente quiser. Só mais dois dedos cruzados de paciência, nessa nossa mistura, e podemos nos danar a mexer. Pra sair do fundo desses meus deslizes de final de mês, do meu pecado-desmaiado-de-te-machucar-sem-querer.


O mundo contido dessa cidade não me desce, nada aqui me percorre ou invade. É um ovo, quente e hostil. Estamos todos fritos. Me viro de novo. Onde quer que lance meus olhos, eles acabam em cima dos teus. Naquele eterno cabo de guerra entre te procurar ou não, posso concluir que jamais se trata de ''qual devo escolher''. Não tenho escolha alguma. Desde que te conheci, deixei meu brio na porta e entrei.


Não paro pra pensar porque durmo e acordo já pensando, o difícil mesmo é conseguir desviar o fluxo do mar de pensamentos. Pra evitar o afogamento, fiz pequenos barcos de papel. Distâncias reais me atormentam, em igual proporção que palavras mal proferidas me ferem, mesmo saídas de mim. Por isso  (re)li meus escritos e tudo o que foi dito, repetidas vezes. Com os olhos salgados de esperar os teus.


E por falar nisso, vovó me disse mais cedo que de salgado basta o suor, a gente tem que ir se adoçando como pode e quem não pode se sacode, porque Deus perdoa quem erra por amor.



































Tem um grito desvelado de saudade no meio dos meus erros,
será que dá pra escutar daí?



quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Palavras (des)dobradas.








E o que me importa encostar na palavra vizinha, se o esbarro não for proposital?
E se for, amor?
Quanto será que nos custa o atrevimento de esbarrar?
Pra quem mesmo que importa?
Será um (des)caminho soltar esse sim no nosso quintal?

O que será que tem de errado nos meus olhos de cansaço,
por nunca terem deixado, de caçar palavra no castanho lar dos teus?

Os anos atropelaram expectativas passadas,
e o nosso amor escapou na contramão.
São e salvo, desencadeando uma série de (des)encontros, até aqui.
Teus olhos desencardem as máculas espalhadas na minha sala-de-estar-só.

Haviam crostas de poeira e exaustão, da minha mesa até a cabeceira,
antes da proximidade das tuas mãos.
Antes da tua respiração se confundir com a minha,
e conseguir aspirar velhos medos entocados.

Chegou há tanto tempo, ainda vivo e escancarado esse nosso amor.
Ficou sem pressa, sem ter pavor, de conhecer esses úmidos porões trancados.
Fazendo questão de encontrar as chaves perdidas na bagunça que sou eu.

A vontade que a gente calça é suficiente pra andar além da calçada,
sem receio de sair pisando nos dias mais sem graças.
Esticar os dois cantos da boca que quer ficar grudada na tua,
sem se importar com a ponta da língua cortante de quem só sabe falar mal.
E continuo a dizer baixinho, no pé do teu ouvido,
tudo quanto sei que gostas de ouvir.
Só um aviso aos que se recolhem dentro de si:
O amor é mais do que se acomodar por auto proteção.

Acho que preciso de um quarteirão inteiro de paredes brancas,
pra rabiscar todos os versos que guardei pra nós.
Tenho colecionado notas mentais.
Tudo tem pulsado, desde a hora que acordo até a hora em que vou dormir.
Não deve ser nada grave, mas toma conta de mim.

Parece até jura um por um dos teus modos,
desde o teu andar até teus olhos.
O desequilíbrio que me causa sustentar meu próprio corpo,
só pra te ter como desculpa, te fazer me segurar por mim.

Eles dizem que jurar é pecado,
mas continuo jurando por tudo o que for mais sagrado.
Ainda caço qualquer palavra que caiba entre as peles,
faço relicário na ponta do abismo de existir.
O perecível vai embalar cada letra no comprido do tempo,
com pretensão de nos guardar.
Perpetuar o espaço cuidado da minha vida na tua.
Sem obrigação de ter sentindo.
Sem amarras porque voa.
Sendo mais continuidade e menos fim.

sábado, 11 de agosto de 2012

Na rua da saudade não existe contramão.





Tô naqueles dias de revirar arquivos infinitivamente pessoais.
Remexendo o misto de saudade e amor,
Pra ver se consigo dissolver a falta que fica no fundo.
Essa falta que acho ser de pedra.

(Re)ver sorrisos divididos, caretas, 
birras e choros de felicidade ou não.
Tudo assim, congelado.
Mas nunca frio.
Pra que ainda possa nos esquentar por dentro, só de lembrar.
Caber no tempo.
Até porque ainda tem muito amor pra colocar lá dentro.
E a gente sabe que amor nunca pode ser demais.

Nos intervalos apressados entre um ano e outro,
o salto do consolo é a certeza de que a gente ainda se tem.
E ainda dizem que a única certeza que se tem na vida é a morte.
Se for mesmo assim, tenho duas.
Sou sortuda, sempre achei.

Guardo nossa presença com gosto de sorvete,
numa caixa de cartas e flores azuis.
Onde me trouxeram pelúcias e um gato.
Naquele aniversário, 
acho que nunca fui tão feliz.

Continuo cabeça dura de coração mole.
Mania de guardar detalhes.
Basta ler pra saber.
A diferença é que agora aprendi a assumir.
Encontrei nossas memórias acordadas num mundo que não cabe em caixas. 
E saí correndo pra escrever aqui.

Estamos sempre a um telefonema de distância.
Mensagens no meio da madrugada.
Visitas cada vez mais raras,
Encontros em que sempre tem um que vai faltar.
Palavras soltas giram ao redor da minha boca.
Fico tonta com tanta coisa que tinha pra contar.
E só um pensamento me ocorre.
O que seria o espaço entre dois pontos,
pra quem se cruza por acaso no meio da rua,
como quem nunca deixou de se ver todas as manhãs?

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Ainda assim.




Sabe, uma vez ouvi mamãe dizendo que crescer tem um pouco disso, da gente começar a esticar e perder muito do que antes tinha. Lembro dela dizendo como o preço de tudo aumenta e com ele o tanto que a gente tem que pagar (em todos os sentidos que possam existir), que ser adulto é ter que aprender a se contentar. Não sei dizer quantos anos tinha, mas foi antes do meu irmão nascer.


Mas desde muito antes também, eu sei que ela sabia, que nenhuma diferença fazia, porque nada do que ela dissesse iria me convencer. Que sou assim desde o berço, a personificação do desassossego, com inclinamento pra todos os lados que não deveria ter.


De qualquer forma fico lembrando, do modo que nós duas achávamos que iria passar, que era coisa de vó que acostuma os netos mal, faz todas as vontades, tipo mãe com açúcar pra adoçar a vida na época em que nem azeda é.


Acredito que fizemos de tudo um pouco com o andar dos anos,  teve uma tarde que até na grama da praça deitamos, e ela brincou comigo dizendo que via de regra as coisas são como nuvens, porque passam. E olha só, nem passou.


Depois disso ela nem precisou dizer nada, acho que agora ela sabe que tem filho que nasce do lado contrário do que a gente é. Que tem pessoas que tem mania de insistir no que geralmente pode dar errado,  provando que pode ser que dê certo pelo menos dessa vez. E caso não dê mesmo certo, o jeito é sugar até a última gota de sangue da porrada que a vida te deu, pegar o rumo de casa e ouvir dela um ''eu te avisei'', sossegar, se recuperar e seguir. O negócio é tentar, mesmo que a trilha seja acabar retornando.


 Eu sei que nem sempre a gente pode fazer o que tem vontade, e isso já virou até um cliché, mas se doar pro que for nunca pode ser demais. Eu digo isso em voz alta, ela me puxa pra sala e me dá um daqueles conselhos-de-quem-só-quer-me-ver-bem, diz que eu sou nova demais pra sentir tanto assim, que eu deveria usar a cabeça tanto quanto uso o coração. É ela que dá o consolo do choro, me tira do poço mais fundo e com as mãos consegue me tirar da ciranda louca que é esse mundo, quando sinto cansaço por brincar de rodar.


E até hoje a gente tem dessa, de se surpreender, eu comigo, ela sozinha, nós duas juntas na cozinha cor de xadrez. Cometemos erros diferentes em situações diferentes, mas aprendemos do mesmo jeito. Eu sendo aos extremos, ela não. Tem vezes que o descaminho é tanto que a gente acaba estacionando a vontade de ir adiante em qualquer lugar por aí, deixa assim  empoeirando, a Deus dará pelos quatro cantos da casa.


No fundo vovó e eu achamos que foi por isso mesmo que nasci, pra tirar toda a poeira dos dias em que ela usou bem mais a razão.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Não tem mesmo jeito.




Reconheço pelo cheiro, gosto, gesto.
Tato, olfato e paladar.
Um vôo interno, por todos os sentidos que você me faz querer usar.

Segura assim, como agora, com amor e zelo o que te entrego.
Que nunca é tarde demais pros que sabem sentir.
Que é frágil demais pra gente querer fugir.
Corre o risco de deixar cair o que se tem nas mãos.

Entende, que teus olhos me viram do avesso.
Que nas tuas paredes quero atar uma rede, pra poder descansar.

Me lê, me sente, antes que a gente corra o risco de se perder.
Outra vez.

Segura aqui, te prometo, é a última coisa que me atrevo a pedir.
Tô na beirada do precipício que é sentir, quase caindo, na ponta dos pés.


Eu sei, já fazem tantos anos que a gente nem sabe mais contar.
No fundo a gente se tem, sem necessidade de gritar por certeza,
sem ter que sair à procura de afirmação.

Só.
Sei que ainda sinto,
essa coisa que se alastra bem dentro, todas as vezes que vens até mim.

Esse formigamento adolescente,
que me faz querer jurar por tudo o que é mais sagrado
que um dia desses, em qualquer horário, vou morrer de amor.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Entenda.

Amor não é uma espécie de autoajuda.
Amor te fode, te lasca.
Mastiga ossos e retinas.
Suja nomes e lençóis.

Entra vestido em contradição.
O mesmo amor que te maltrata.
Também te lambe a alma, os pêlos, a carne.
Te faz querer viver, te desata.
Te faz ser tão melhor.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Acentuando presentes com pontos finais pra libertar.





Escrevi na tua cara, por detrás de toda a capa que a gente insiste em fazer:

''Você e eu
João e Maria
Zé e ninguém
Sem a parte da fantasia 


História sem pé pra começo nem cuca pro fim
Coisa mais cansativa
Uma canção que já não faz nem boi dormir.''

Eu sei, você vai revirar os olhos, sair fora sem se despedir.
Dizer que o amor é esse absurdo.
Se jogar em outros braços, pixar afeto em outros muros que é pra todo mundo ver.
O quanto o tempo nos devora,  te muda, entorta.
De dentro pra fora te impedindo de crescer.
Camuflando nossos sentidos, fingindo subverter.

Pra mim já não cabe a espera vã, dessa nossa eterna novela.
Entra e sai de anos.
Desencontro de nós dois.


Amanheci sem querer te esperar provar o mundo num só gozo.
Sem ter que te segurar na queda das tuas inquietações.

Eu sei, vai dizer que é carma.
Querer fazer cena, dizer que não vale a pena, partir ao meio o meu coração.
Vais ser não quem és, mas quem achas mais viável ser.
Se aproximar aos poucos e sussurar assim:
''Meu bem você é rosa, as outras eram manjericão.''

Engula todas as frases decoradas, que ja não vejo verdade em mais nada.
Em nenhum canto das tuas palavras, em nada que saia de ti.

Eu sei, vai me chamar de hipócrita, pegar as coisas que esqueceu aqui.
Ir embora de uma vez por todas.
Beber em algum canto com gente que não conheci.
Vai se encher de prazeres agudos.
Voltar com a alma rasgada e esquecer que existi.


Da boca que te beijava, hoje salta toda a palavra que te corta e te afaga.
Te aproxima e te afasta, te faz oscilar em procurar saber de mim.


Talvez o sossego finalmente venha sem meu dia pra encostar no teu.
Deixar o tempo devorar a carne dura do passado,
e torcer pra que ele faça a digestão.









terça-feira, 8 de maio de 2012

Guardo





Gravei teu cheiro e teus olhos,
falando das feridas que a gente não cuida.
Das coisas que a gente não diz.
E você foi a-coisa-mais-especial-que-quase-me-aconteceu.
Das poucas coisas que sei.
Só.
Sei que devia ter falado contigo antes daquele Natal.
E quantas outras coisas a gente deve e não paga?
A gente quer e não faz?


Embrulhei o coração pra presente sem cartão nenhum.
Enderecei assim:  ''Pra ninguém abrir''

Joguei sujo nas escolhas.
Fiz do tempo um muro e me escondi.
Extraviei meu pensamento pra escapar do teu.
Te deixar passar.
Sem reagir.
Quis esquecer.
Sumir.


Tanto que fiz e me arrependo.
Ter me jogado nos braços,
de quem só me fez colecionar cansaços.
Tantos anos gastos,
que às vezes acho que esgotei do amor que era pra ti.
Que era pra ter sido contigo,
aquilo tudo e mais um pouco que eu vivi.
Mas entre nós não há culpados.
Porque ''nós'' talvez não há.




Me diz se é  possível continuar amando antes de sequer saber que sabia/podia/queria amar?



Só.
Acho que ainda quero.
Do lado certo.
Sem ser do avesso.
Pra ser melhor.
Pra ser de vez.

domingo, 25 de março de 2012

Da natureza encharcada de erros.




Dias cinzas,
ontem quase comprei tinta
na tentativa de nos colorir.

Cadê que eu sei pintar?
Cadê que eu sei me despedir?

O tropeço da tentativa.
O frio da distância como o abismo entre o calor dos corpos.
Congela, te rompe e esmaga todas as possibilidades de aproximação.
Todos os vícios amenizando a dor, como válvula de escape ao avesso.
Nossa saída imaginária do cativeiro que nós somos.

Pior do que a ressaca é o gosto amargo da palavra não dita,
é o pulo do gato que a gente dá por não querer tentar.
O comodismo, que gruda como limo se a gente deixar.
O nó que o erro dá nos teus sapatos, te impedindo de andar.
É a falta de crédito em si e nos outros.
Falta de pulso, mergulhada  na hipocrisia maior de julgar os erros todos.

Cadê os olhos mansos de quem me aceitava,
antes da descoberta óbvia de que tambem posso errar?
Cadê a palavra que eu guardei todo esse tempo pra aprender a usar?

Escorre aos litros a falta,
só um pingo de vontade de ser humana.
Hipócrita, racio anal, crua,  insana.

Lá fora choveu saudade, de manhã até a tarde
e eu saí de guarda chuva, só pra não ter que me molhar.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Em banho-maria.

 
 
Então vem, me canta qualquer coisa bonita, me cuida, me abriga.
Abre esses braços por detrás de mim,
me cobre inteira desse teu cheiro pra grudar no meu.
Aproveita enquanto cai a tarde e ainda não chove,
tira uma fotografia comigo na sombra dos teus olhos.
Me eterniza assim, distante e fria,
ao lado da janela daquela cozinha,
onde a gente já cansou de se cozinhar.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Dois sóis.




Precisava te escrever, não só porque hoje faz um mês de sol dentro de nós, mas também pra deixar registrado que ontem foi um dia um bocado bonito. Tu sempre vens e me adoças como podes e aos pouquinhos vais me tirando o gosto amargo impregnado no céu da boca que viver tem me deixado. Contigo qualquer coisa fica mais doce aliás, tens essa coisa que faz a gente ir aguçando as papilas gustativas sem receio, provocando aquele desejo de provar sempre um pouco de tudo. E (re)viver de repente passa a ter  gosto de sonho, ganha um sabor agridoce viciante que o ato rotineiro de sonhar contem, e espantosamente vamos nos  permitindo, com cuidado diluindo aquelas incertezas uma a uma e deixando que fique aqui em nosso meio somente aquilo que possa vigorar.  É rapaz, querendo ou não é exatamente essa pontinha de desejo e gosto pela vida que vem (re)aparecendo  quase que  imperceptivel através de algo ou alguém, e quando a gente menos espera se torna maior do que nós mesmos, maior até mesmo que os prédios que se levantam rígidos no centro da cidade. E isso tudo se intensifica ainda mais quando há aquela unificação tão significativa em que um vira complemento do outro, em que o que era dois se resume em um.  

Vê bem,  és essa parte considerável de mim que eu achei ter perdido no meio do caminho, a perda que eu me orgulho em não ter permitido acontecer, eu era tão cheia de ‘achismos’ e coisas desnecessárias, e a falta de afeto que eu achava não sentir me empurrou atras daquilo que a gente sente que vai vigorar, porque o que é pra ser vigora. Que bom que ainda te tenho ao meu alcance, que bom que me vens e me preenches e me fazes querer abrir um riso sem sombra alguma de dúvidas, livre de qualquer simulacro, esse sorriso desajeitado, arreganhar de dentes que ecoa sempre verdadeiro assim como essa imensidão de coisas tão maravilhosas que eu desejo pra ti e pra nós ao mesmo tempo naquela unificação de sermos complemento um do outro. Eu só queria te fazer lembrar mais esta vez que somos esse gosto doce, somos essa saudade que não cessa, a sede de vida com gosto de quem dorme e sonha, adiando e se salvando por alguns instantes. Somos essas duas vidas que se preenchem sem nenhum esforço, dando braçadas pra não se afogar no comodismo, duas vidas que se tocam e se recolhem no calor de uma só.

Para sempre tua,

Giovanna M.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Mur de vos yeux



Desligamos,
você de lá e eu daqui,
mas ainda assim restavam promessas de sonhos sinônimos.
Sobravam nossos cheiros tão invasivos,
tomando conta de todos os cômodos.

Nossas mãos que se procuram distantes,
na tentativa de ir guardando o que somos.
O caso é que não nos desligamos inteiramente,
somos feitos de carne, pecado louco de sombra e de luz.
Com as mesmas mãos que nos tocamos e nos recolhemos,
recebemos os toques de milhares de outros que não somos nós, e sabemos.

Somos apalpados continuamente pelo mesmo amor que eles dizem ser cego,
mas que sei que consigo ver e ser vista, todo o santo dia,
na parede clara do teu par de olhos.