terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Roda a vida inteira, dentro de nós.



É preciso driblar o vazio, a completa falta ou excesso de tempo. Dois extremos. Evitar esse isolamento inconsciente, mesmo que seja de mansinho.


É necessário manter os alicerces para que a casa não caia, e quando falo em 'alicerces' me refiro à base, àquilo que sustenta, e você sabe. Manter família, em qualquer estado que seja, sendo ela desestruturada ou não, porque é o amor que nos veio pronto antes mesmo de botarmos os pés nesse chão. Manter laços não sanguíneos com um ou dois gatos pingados, pra perceber que qualidade difere de quantidade de pessoas.


É necessário (re)aprender a viver apesar dos tombos, porque tão necessário quanto (re)aprender é entender que nem sempre iremos tropeçar em algo maravilhoso. Vai ver a vida seja essa coleção infindável de tropeços até que finalmente se aprenda a andar. No meio dela a gente faz de conta que quer desistir, chora, sonha acordado, fala alto com o nada naquelas vezes-de-querer-falar-com-ninguem. Mas a sede de existir é tão maior do que possamos imaginar que a gente logo volta à tona, se levanta e torna a cair como numa dança involuntária-alucinógena-incansável entre realidade e fantasia, onde todo mundo entra na roda, sem exceções.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Das ausências sentindas, sinto falta de mim.




Talvez naquele dia assim calado, o amor tivesse adormecido.
Tomou chá de sumiço e desapareceu de mim.
É que sinto meus sentidos se perderem,
e desde então sinto que não escrevo como costumava escrever,
não vivo do modo como deveria viver.

Aliás, viver tem me parecido um porre, e dos brabos,
do tipo que sai cortando toda a vertente do que se pode vir a sentir.
Os dias tem me deixado ressaquiada o bastante
pra qualquer coisa que ainda me reste fazer.
Tenho dormido no máximo três ou quatro horas por noite,
tenho sonhado bem menos do que costumava sonhar.
Acordo, ligo o automático e vou trabalhar.

Vou mas torno a voltar.
Sou.
Só.
Pedaço daquilo que fui.
Um coração sem portas ou janelas,
ninguém entra, ninguém sai.

Eu sei todo o trajeto de volta.
Talvez seja exatamente por isso que nunca volto para o mesmo lugar.

Não vê?
Sou toda submersa num  mar azul,
na espera de algo que possa me remover.
E nessa aguardo, tenho me guardado pra sabe-se-lá-o-quê.
Roda a vida inteira do lado de dentro de mim.

Me sirvo de palavras que saem quentes por entre os dedos,
apesar de Dezembro ser mês avassalador de saudade e frio.

Será que o tempo ainda me prova que tem quem diga algo que possa fazer sentido,  
sem que posteriormente eu tenha que sentir muito no fim?
Em qual parte do caminho meus olhos desaprenderam a falar a língua dos teus?
Pra onde foi toda aquela poesia? 
Pra onde foi tudo aquilo?
O que eu queria?
Dizer.



  

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Migalhas

Não, por favor entenda, a casa é antiga demais para suportar mudanças. No máximo te permito arrastar um móvel de um compartimento mais próximo, daqui até ali, com muita cautela pra que meu chão não se risque, não fique lanhado, não mais do que já está.

A essência inteira escorre, invadindo os cômodos, percorrendo os poros, passando por cima de ti, para além do nosso quintal. Mas todo esse doce talvez não te agrade, por ser assim às avessas, tão forte, te causando pancadas leves na boca do estômago. Nauseante. Nesse jogo que te atrai e te repele até não poder mais.

Daqui posso ver esse quase sorriso estampado em teu rosto, tocando tudo de mãos semi abertas com o pavor de quem só consegue ser pela metade, deixando por onde passa um rastro do que poderia ter sido e já não é. Que mundo podre e louco é esse em que não se pode nem dizer 'sinto saudade'? Em que lugar esta escrito a regra do 'Ser pela metade'? Mundo sem graça, tão confuso quanto o meu.

Te pensei inteiro durante o tempo todo em que estivemos juntos, mas agora agradeço enquanto tudo ainda é prematuro, por ter me aparecido enfim como realmente és, todo minúsculo, pela metade, como as pessoas todas, acostumado à migalhas, a comer pelas bordas com medo de se queimar, que antes mesmo de terminar empurra o prato e levanta, ''não quero mais''.

Não estou acostumada à migalhas e nem quero me acostumar.

sábado, 12 de novembro de 2011

Meu menino. Meu pedaço. Meu presente.




Carta à Diogo Murrieta,  em 11/11/2011


Não permito que seus olhos andem se escondendo, planejando fuga, saindo da rota direta por onde andam os meus. Ficam marejados, mesmo fazendo menção de que como de costume vão sorrir pra mim. Não adianta, sei lhe ler até de longe, e você sabe.

Sua cabeça gira,  a carne enfraquece e as pessoas somem como naqueles filmes que a gente prevê o fim. Eu entro em cena na sua vida como naquela parte em que a mocinha se aproxima do cara como quem nada quer, pela porta da frente, andando devagar, procurando semelhanças, pontuando diferenças.

Perceba que com o desenrolar da trama, assim de mansinho, vou fazendo aquele nosso filme todo em preto e branco colorir. Julho é mês de chuva, mês de você e de mim, do you remember?

No carnaval da vida não usamos nenhuma máscara, somos descarados e costumamos rir bem alto sem nenhum pudor em qualquer hora de um lugar qualquer. Entre nós não existem clichés. Entre nós só existe um  espaço curto separando os abraços que me fazem encostar meu coração no seu. Do lado de dentro só existe amor,  a vontade de querer me  dividir contigo misturada com aquela lei de ser feliz que inventei pra gente noite passada.























Em dias cor-de-céu-que-chora prometo fazer cair pingos de afeto.
Vamos sair sem guarda chuva pelas ruas, pra que eu possa me encharcar de você.
Pra você se resfriar de mim e nunca mais fazer sarar.













sábado, 15 de outubro de 2011

Para além da tua pele.




Os olhos querem se fechar enquanto tua boca me fala.
Pra te imaginar por inteiro do outro lado da tela, do lado de fora de si.
Teu corpo que se precipita, tua pele, teus dedos que escrevem com pressa.
Letra por letra.
Soltando a agonia de se virar do avesso pra mim.
De se despir de toda a capa que o tempo te jogou por cima.

Então fica.
Me escreve com esse mesmo cuidado de agora.
Faz de conta que sou de aço e nunca chorei por nós dois.
Sou tua.
Você é meu.
Tira todo esse peso das costas.
Se sinta em casa bem dentro de mim.
Te quero sempre, te quero inteiro.
Sem correr o risco de te amar pela metade.

Te leio apenas.
Como quem toma palavra por palavra como se fosse água.
Como quem morre de sede pelo que ainda pode ser dito.
Como quem vive e morre de amor, todos os dias antes de o sol sair.
Pra queimar você.
Pra esquentar nós dois.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Air.




E a frase “que seja eterno enquanto dure” não sai daqui de dentro.
Mesmo que pudesse ser só até o dia seguinte, preferiria que fosse intenso.
Assim do meu jeito de quem não sabe viver as coisas pela metade.
Quero te levar comigo, pra conhecer tudo o que conheci ontem.
Porque sempre quero te ter por perto, nas piores e melhores situações.
E ontem meu pensamento era só terminar aquele jantar, voltar pra casa
e tentar reverter tudo que eu fiz.
Enquanto pulava de uma cerveja pra outra 
Enquanto falava de você a eles,
observava os desenhos delicados na parede e o espelho antigo.
Era a nossa cara.

Tenho que te levar nesse lugar, enquanto dure.
E em todos os outros que planejamos.
Na praia que você disse que queria ir, num bate e volta.
Pra ver o mar do lugar mais alto que tiver por lá
Pisar na areia, ir de mãos dadas pra qualquer lugar.
Nossa casa imaginária.
Faz de conta que é na Lapa.
Vou até lá reservar um cheiro de mato.
Uma pequena Clarice para brincar no jardim.
Um cachorro grande de raça qualquer.
Pra impor respeito.
Rede na varanda.
Dias de sol.

Não se preocupe, vou encomendar os nossos sonhos.
Um entardecer com chuva fina, fria.
Brisa e arrepios de leve.
Caminhar.
Vou te levar pra gastar desse nosso sentimento.
Sem culpa. Sem preservar.
Antes, precisamos viajar.
Cuba.
Cozinhar.
Nos por em ordem.
E uma foto para cada vestido meu.
Poemas que viram situações.
Situações que viram poemas.
Desejos a desejar. Podemos tudo até agosto chegar.
Situar bem as agulhas sem me pinicar.
Linhas que viram palavras.
Que viram frases bem colocadas.
Parágrafos inteiros de zelo.
Apelos.
E eu te pedindo pra ficar.

Vem, vamos lá no nosso bar.
A gente pode tudo.
Vivendo o todo.
Se usar.
Sem se apegar.
É mentira.
Até agosto.
Ao seu gosto.
Amor voar.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Te (re)lembrar.

Ai, se voce soubesse a dor de saudade que tenho todos os dias.
Só de (re)lembrar cada modo teu já me vem todo aquele peso no baú da memória,
a partir daí sou só vontade de sair voando e te buscar onde quer que seja.

Eu reparo você toda, te monto feito quebra cabeça, peça por peça.
Como se fosse enigma te decifro e te devoro.
Te quero perto, te quero sempre, te quero bem do início ao fim.

(Re)Lembro do jeito como segurava aquele cigarro na ponta dos dedos,
dos teus olhos 'castanho-saudade' rindo pra mim naquela última vez em que nos vimos,
de todas aquelas fotografias em preto e branco que tiramos já faz tanto tempo,
e ainda assim, sempre penso que foi ontem.

O tempo é traiçoeiro,
me engana sempre e me faz não ter mais tempo
do tempo que antes tinha pra te ter por perto.

Venha hoje a tarde, faça toda essa dor sumir.
Me olha de volta,
me conta uma história sua,
vamos sair na chuva
como naquele dia.
Vamos inventar qualquer coisa nova.
Falar do que nos faz felizes ou do que ainda dói.
Qualquer coisa nossa
pra depois lembrar.
Sentir.


Ai, que eu já não posso com tanto amor.
Que já não me aguento nos intervalos apressados entre um dia e outro.

Como posso andar reto com esse peso todo de saudade?
Essa saudade morta no instante em que te vejo,
é a mesma que renasce todas as vezes que voce me beija,
um beijo só seu, assim de você pra mim, sabor despedida, acende um ultimo cigarro
depois me olha com uns olhos de quem só quer ficar e repete baixo
sem querer que eu ouça, bem de mansinho a palavra tchau.



































Por favor tempo, traz você de volta.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Super reciclando o amor.



 Agora é assim que funciona.
Vamos nos amar, nos conhecer outra vez
como se fosse a primeira.
Nos contorcer, trepar loucamente,
fazer o melhor papai/mamãe do planeta!
Vamos planejar ter filhos, uma casa espaçosa com jardim,
alguns livros incríveis na estante e plantas vivas espalhadas pelos cantos.
Tudo isso em menos de tres anos.
Está de acordo?
Casa comigo que eu te faço o ser mais amado desse mundo.
Mais bem cuidado, protegido e bem alimentado.
Com direito a almoços e jantares. E vinho tinto!
Porque meu bem, faz bem ao coração.

Então vem, casa comigo
e fica aqui em casa por tempo indeterminado.
Te faço café enquanto você invade minha cama,
meu espaço e deixa pedaços seus bem
espalhados por todo canto.
Sua camisa predileta no meu cesto de roupa suja.
Confort.
Espalha tudo, é tudo seu.
O que é meu é teu e eu, bem...
Tenho sido sua todos os dias de todos os anos, invariavelmente.
Aproveita
Relaxa, goza e espalha!
Esparrama...

Assim, se caso um dia for embora
não será capaz de se recolher por completo.
Deixando à mim lembrancinhas suas
que de início me causavam desconforto,
mas que desde aquele dia no meio da rua,
na chuva, tem sido uma constante.
Desde então joguei todo o desconforto no lixo da cozinha.
Sem rancor algum.

Mas vem cá. Casa comigo. Nada de medo.
Não faça como a maioria, não fuja de envolvimento.
Quero todas as nossas fotos espalhadas pela casa,
vou me livrar daqueles lençóis
com nossas marcas e mágoas maiores que nós.
Nada que não se supere, nada que não possa ser reaproveitado.
Porque três anos não são três meses. Você sabe.

Somos adultos agora, os planos são outros meu bem.
Maiores e melhores.
Então vem.
Me ama.
Me aborrece.
Se encosta em mim.
Eu as vezes reclamo, mas no fundo gosto.
Te disse.
No ouvido.
Noites atrás.

Quero me dividir contigo,
e quero isso pra ontem.
O quanto antes. Já.
Vamos nos encher de amor, feito bexiga de gás.
Planejar.
Traçar tudo com papel e caneta.
Fazer tudo como tem que ser.


Temo saudade.
Tenho.
Somos tão bem resolvidos agora que tenho estranhado.
Mas não reclamo mais, apenas comento.
Desde o início avisei que não queria, te querendo.
Lembra?
E parece que foi ontem.

Voltamos tão cheios de experiência e maduros.
Tão duros que tenho medo de que possa vir a perder a doçura.
Eu e meus medos.
Loucura.
Esqueça minhas neuras.
Só se ligue no bom de nós dois.

Emendando um amor no outro.
Vamos Super reciclar o amor
Sem mágoas passadas.
Nos passamos a limpo.

Vem agora, casa comigo.
Insisto.
Te chamo.
Garanto.
Vem!





quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A gosto.




Estive lembrando daqueles dias de agosto mais uma vez. Dias que assim como eu andavam quase parando. Sim, no intervalo daqueles dias havia um ''quase'', porque apesar dos pesares nada era em absoluto estático e eu ainda tinha vontade de continuar.

Embora tenha sido um mês passado como todos os outros, percebo que ainda fico atravessando agosto por agosto como quem atravessa na ponta dos pés um meio fio entre dois prédios absurdamente altos. Cerrando os olhos. Respirando fundo. Tentando manter o equilibrio entre uma coisa e outra.

Lembro que o ar daqueles dias era denso e teu silêncio tambem. Fora o ar e por vezes a própria falta dele, lembro que escrever naquele tempo já não era um hábito e sim uma necessidade, assim como comer e dormir. Sim, eu sei, acho que atravessando aquele agosto endureci um pouco.

Sei que posso ter endurecido porque ouvi algumas pessoas comentando algo bem baixo atras daquela porta. Era sobre mim. Sobre quando uma pessoa qualquer como eu, você ou aquele outro se permite endurecer e nem sempre o resto em volta tem de ser obrigado a permanecer ali até que tudo acabe. Era algo sobre dar espaço, ter mais paciência, viver, se doar, se doer.Como se a minha existência fosse uma denúncia na boca dos outros.

Falar sobre o próprio vazio sem ter dosagem é como ver a plateia de um talk show desinteressantissimo exalar tédio e babar de tanto dormir. Por isso escrever alivia bem mais, o papel não é feito de carne. Nós somos.
 
Lembro das vezes em que resolvia sair daquela casa. Tinha a impressão de que as pessoas - não todas, mas algumas delas - brilhantavam vontades, reluziam vida. Deboxadas. Enquanto por detras daquela porta no espelho que cobria a parede, eu ficava em pé por horas buscando uma faísca qualquer de continuidade, por menor que fosse. As vezes eu chegava a ver, outras não. Eu era opaca . Quase verde musgo. Sem brilho.

Eram dias sujos, eu sei.



sábado, 23 de julho de 2011

E assim vos apresento.







Chegou no céu o rei do flerte.
Dos apelidos criativos.
Dos cinemas em dias de chuva.
Das comidas mais engordativas fora de horário.
Das melhores histórias
( sobre pessoas de convívio natural ou de bandas geniais e inimagináveis )

Dos sorrisos espontâneos mais sem jeito que eu já vi.
Das bicicletagens diárias pela cidade.
Dos casacos de couro ou jeans.
Dos coturnos e dos vinis
(que em grande parte não existem mais em biboca alguma por aí).

Do amor incondicionalmente tímido e a seu modo
pelas poucas e boas pessoas que sempre vai ter.
Da teimosia.
De falar de boca cheia e beber bastante coca pra ajudar a descer
De não se importar com que os outros iriam pensar
De falar num tom acima do comum
De ser querido por esses poucos e bons
mesmo que talvez não soubesse da proporção toda desse ''querer''

Da teimosia
Dos apertos fortes de mão
Das latas de milho consumidas fora de hora e em locais quase ''impróprios''
Da atenção
Do saber ouvir
Do saber falar
Das manias
De querer fazer tudo na sua hora e do seu jeito
De ser duro na queda

Das decisões
Da persistência
Das traduções
Das revistas alternativas
Dos presentes surpresa no meio da tarde
Dos beijos na testa sinalizando proteção
Das brigas e pavio curto
Das reconciliações

Dos abraços de urso
Do ir e logo voltar
Dos conselhos
De fazer sorriso na gente por ter tiradas incríveis
De toda a excentricidade.
Da sua menina dos olhos que o tempo transformou em mulher
Do coração maior que o corpo
Da vida efervescente que sem ele tá mais pra coca sem gás
De toda essa mistura agridoce de saudade e amor.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Gostava dessas coisas. Da fragilidade perigosa de se corromper.



Eu tentava arranjar lugar/definição/cor/
pra essa arte que a gente tem de estragar com tudo de bonito que ainda resta.

Tentando todo o santo dia correr dos monstros do lado de dentro/fora de mim.

Me vi de cima.
Chorando abafado.
Gotas de um mar salgado.
Esperneando.
Toda caída ao chão feito uma garota mimada.

Já basta.
Corei de tanta vergonha na cara, e você sabe.

Então você me escreve assim,
bem de mansinho,
perguntando do que eu preciso pra ser feliz.

Vem me mostrar todas as flores,
enquanto só o que consigo ver são espinhos.

Veja bem.
Preste atenção.
Pode anotar se quiser:

Preciso secar esse poço de acidez.
De uns bons quilos de afeto.
De casa com varanda.
Dois dedos de coragem.
De você e de mim.

Dos teus braços pra me jogar,
pra fazer todo esse drama.
Proteção.
De amor.
Um mar.

sábado, 4 de junho de 2011

Cor.ação




E foram se arrastando os minutos e as horas até que começasse a tarde.
Tarde cinza com faíscas de azul. Cores médias.

Saltei pro lado de fora de mim. Fui abrir todas as portas.
Sonhar. Porque sonhar me desencadeia de ti.

É que ando saturada dessa falta de vontade.
Dessa mania de tristeza.
De me auto sabotar.

Porque se dar ao menos uma chance é preciso.
Para limpar todas as paredes do limo do comodismo.
Remexer o azedo de nós para que talvez se torne um pouco mais doce ou azede de vez.
Tentando desse modo expelir a sensação de se estar vivendo uma vida toda pra dentro.

Vez ou outra essas urgências me aparecem fazendo uma última chamada.
Puxando forte pelo braço. Exigindo uma resposta.

Para evitar - quem sabe -  uma queda ainda maior no abismo que eu sou.

Por isso decidi saltar de pressa para o lado de fora.
Escrever assim como há tempos não fazia
Deixar de me consumir.
Como forma de espantar fantasmas.
Pedir proteção.
Me virar do avesso.

Não vê?
Tenho saído aos poucos do forno que a casa se torna.
Tentado respirar um ar que não seja o condicionado.
Sempre em passos largos pra qualquer lugar, contanto que seja em frente.

domingo, 15 de maio de 2011

Dias cinzas.

Minhas missões contigo são as melhores.
Por que ?
Porque só de te ver assim parada.
Ali, sentada no bar , os meus olhos sorriem.
De longe. Reconheço. Te leio.
Logo me chego pra perto. Proximidade.
Porque eu pego transporte coletivo.
No meio da chuva
Saio correndo no meio do nada.
Faço missões neurantes inimagináveis.
Só.
Para encontrar meu tudo.
Pra te ter por perto.
Me sentir assim no fim do dia.
Leve.
Quase uma ''menina-pena''.
Solta no ar.
Cheio de nuvenzinhas carregadas.
E nós duas ariscas e encharcadas.
Sentindo falta antes mesmo de se despedir.
Uma pena mesmo.
É a saudade ser muita e o tempo tão pouco.
Não acha ?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Abismo da Tentação.



 Texto de meu querido amigo Breno Bevilaqua que muito me agradou, tanto que senti uma vontade imensa de compartilhar por aqui :

''Desperte. Jogue-se. Entregue-se. Permita-se ser um ser seduzido, reduzido a mais um simplório objeto de desejo de alguém. Vire-se do avesso. Recomponha-se. Mergulhe de cabeça naquele lago dos seus profundos desejos, suprimidos pelo medo de ser alguém que você sabe que é, e que ninguém mais tem o direito, e se quer o prazer, de ser. Seja um ser que pensa alto, que grita para aqueles que quiserem ouvir (e que estiverem sem fones de ouvido). E por acaso, já que vem ao caso, ouça música no volume máximo, numa contínua explosão de sabores e notas musicais. Status: "com fone de ouvido, vivendo sem ouvir os problemas que o mundo tem um belo prazer em me dar". Deixe-se cair na tentação que você vem se equilibrando para não cair. E caia com gosto, numa suculenta queda permantente, deliciando-se com cada metro do abismo que passa. Respire o ar e sinta seu corpo agradecer por ter deixado os medos e receios para trás. Respeite-se. Seja o que o medo diz para você não ser. 
       Caia e ria de si mesmo, e depois ria dos outros caindo ainda mais feio do que você. Sim, somos educados para respeitar os outros, mas rir é o melhor remédio e não vai machucar mais do que a própria queda. Faça uma tatuagem. Coma quilos e mais quilos de chocolate. Faça uma lista de coisas pra fazer antes de se formar. Tire um tempo para lembrar do passado, e se quiser, perca-se lá, afinal ele é seu. Brinque se ser criança, sorria para todos. Ame. Não só de coração, mas se entregue de corpo inteiro, atire-se nos braços daquela pessoa. Beije. Contemple. Admire. Fixe os olhos castanhos, e aí, pare. Pare e procure as cores. Sim. Elas se foram. E agora você caiu na melhor tentação de todas: a de um mundo em preto e branco, onde a cor é sinônimo de paixão, delírios, amor sem limites, inscrito nas estrelas, nas constelações, nos livros. E aí, você se libera para ser um ser colorido junto a um outro ser, de mãos dadas, na eterna queda. Sim, deixe-se cair em tentações, mas se tiver a oportunidade, atire-se em direção a elas, sem medo.''

Caso tenham gostado no link aqui tem mais > Deleting words.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Mantenha-se no fundo do mar.

 Ela leu.
Ostra feliz não faz pérola.
Sorriu.
Mas logo esmoreceu.
 Queria um colar todo só pra ela.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Puro simulacro.




Vem , chega mais perto. Me arranha, se encosta em mim. Me consome e depois some do mapa como de costume. Assim é agora e foi todo o sempre. Na ilusão do que é hoje ou do que era ontem, sem previsão de tempo ou conjugação de palavra você vem e me gasta cada vez mais, até não sobrar nada, até que não reste qualquer caco de mim que te corte e te cause algo, te provoque espasmos e te faça sangrar.

Eu ainda espero em silêncio. Resposta de pedra, feito aquelas que você jogava na minha janela tentando me fazer acordar. Quebrando alguns vidros, estilhaçando todos os elos, gritando meu nome bem alto, me dizendo qualquer bobagem nunca dita.
Tome, leve essa dor com você. Nada mais me faz enganar, nem esses seus olhos rasos de promessa, porque eu sei que não se demora, cê vem e me atiça, provoca uma sede que nunca finda e me faz querer chorar aquele choro preso louco pra querer sair e te buscar onde estiveres, interrompido de soluços, ininterrupto de saudade.
Não me venha com essa. Não gaste todas as mentiras antes do jogo acabar, guarde-as no bolso, ouça o que eu digo. Retire esse pó , bata os pés antes de entrar em mim. Eu finjo algum ronco, de olhos cerrados pra não te ver sair. Nada mais dá pé pra nós, fim da linha. Vai, apaga essa luz antes de ir mas não deixe que o vento tranque todas as portas. 
Não perca mais tempo menina, não me faça ferida. Vai logo te embora.

domingo, 20 de março de 2011

Sobre verdades expelidas e feridas alcoolizadas no papel.



Quase imperceptível.
Um pingo de gente no meio da calçada, fazendo hora ,rabiscando qualquer coisa num papel. Rasgando madrugada de novo, na espera de quem nunca veio chegar.
Cidade toda vazia, a cabeça explodindo, pessoas cheirando a desinteresse , copos cheios, cigarros acesos e almas pequenas demais. Era o que ela via por detrás da tela , por detrás do vidro , por detrás de si.
Tão perdida, a tresloucada sufocava com a corda bamba em que andou toda a vida. Em alguma hora seria engraçado imaginar o fim.
E eram tantas perguntas sem resposta alguma, eram palavras carregadas de ironia, série de desistências, um rio de frustrações. ”Pessoas de merda , is all the same shit”, estampado em letras garrafais a três porradas na parede do cérebro.
Era início de quarta, e queria poupar o que ainda restava de sanidade pro resto da semana, se contasse duas gotas no fundo era muito. E sabia.
Passava por aquele mesmo processo quando chegava em casa, metia o dedo na goela e vomitava tudo no papel.Todas aquelas letras caindo tão ácidas na beirada, formando fila, querendo sair. 
Ia vomitando verdades na direção contrária.
Uns liam três vezes ou mais tentando entender, sempre assim. 
Escrevia por não encontrar modo melhor de amenizar o enjôo que viver às vezes causava, como se fosse necessário emprestar o peito de alguém,já que a dor era muita pra caber só no seu.
Pimenta ardida nos olhos alheios, letras que saem quentes, verdades vomitadas, chame como quiser.
O que ela tinha era uma ferida aberta, daquelas que quase um mundo tem mas não faz questão de ver pra não ter que sentir. 
Já não tratava, não usava vista grossa ou pomada.
Vez ou outra passava a mão em cima, cutucava. Jogava álcool pra gritar e arder. Latejando e se sentindo viva.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Meu ingrediente intimista









Está chovendo e eu gosto. 
Já não me importo mais em ser do avesso
Doce demais de enjoar, pesada demais pra carregar,
Um osso duro a beça de roer.
É que vou tão além de um amontoado de palavras, 
eu não sou só estas letras. 
Preste atenção.

Continuo a menina  teimosia, bobalegre, o meio metro de mulher.
Coraçãozinho sem freio nem portas, e a minha mania estúpida de não saber fechar.
Quebra cabeça de mil peças no escuro. Ninguém sabe montar.

Continuo não sabendo lidar com essa urgência toda que sou,
mas já não consigo escapar de mim, do que me molda, e já nem quero.
Desaprendi a correr dos fantasmas que moram comigo, 
dentro da cabeça, por debaixo da cama ou arranhando os discos.

Pequenez no tamanho apenas, e você sabe. Sou leitura difícil de fazer.
Eu sei que é de causar rebuliço , receio nos outros em primeiro contato.
Esse papo de bicho grilo, essa vontade incontrolável que tenho de sabe-se lá o que.

Não sei enganar, nem a mim nem a ti.

Acredite no que eu digo, tenha certeza .

Sou mais do que seus olhos conseguem ver.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Saudade derrama e faz limpar os olhos.







Eu sei, foram meses desde o ultimo contato.
Daqueles em que a gente sente a pele de perto, proximidade. 
Tato, olfato e paladar.

Eu quis expulsar toda aquela falta sua que havia , 
esquecer das tolices que fiz e da ansiedade que vinha 
e fazia o meu corpo inteiro ter fome de algo que não tinha nome 
mas eu desde o inicio parecia saber.

Me olha e me desnuda, me aceita e me recusa, 
sai correndo pra longe enquanto eu tento te alcançar. 
E depois de todo esse tempo me pergunta ''Por que agora e não antes?'', 
mas por céus entenda de uma vez, se eu desviei o caminho , 
foi por medo de te perder.

A verdade era que desde o inicio maquinava um modo de te guardar. 
Eu ficava horas ali parada, olhando pro teu nome 
lamentando ser aquela a única forma de te contatar.
Quis fazer algo e não me movia,
por não ter mais toda aquela coragem que eu costumava ter.
Tua ausência era corrosiva, corte lento de navalha fria, 
que eu nem sequer conseguia estancar.

Porque eu tenho marcas espalhadas por toda a parte,
um coração cheio de poços rasos, e acredite, 
fazia tanto tempo que não chovia em mim 
que até já tinha esquecido de como era se molhar.

Siga os pontos, não se perca no caminho, não repita esse ''talvez''.
Eu só precisava com urgência 
te fazer saber das coisas que eu não sei dizer,
e que ainda estão fervendo na minha cabeça 
como um café quente que acaba de sair.


Precisava me colocar em ordem. 
Me acalmar.
Como no dia em que descobri que meu corpo 
tem exatamente a forma do teu abraço.

Então leia, ao menos diga que vai tentar, é o que peço.
Porque se eu escrevo agora é na esperança de te fazer sentir.


Pode hesitar se quiser, 
mas no fim do dia me diga que vai ficar e nunca mais partir.
Porque o tempo inteiro 
é como se eu tivesse te enxergado debaixo de uma árvore
e de repente você tivesse saído, e tudo ficou mais claro.
Sem sombra alguma, sem sombra de dúvidas, eu podia enxergar.

E a melhor parte era quando resolvia esquecer os olhos em cima dos meus,
porque mesmo com medo do que me causava,
o mais importante era o fato de poder te ver.

Eu via bem mais além, e já não sabia me fazer parar.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Traços




Hoje depois da chuva ela reparava o sol tentando sair. 
Luz escassa beirando as nuvens. Nublado

Pela janela observava a imensidão da rua, 
as linhas que os aviões iam deixando no céu. Rastros

Enquanto apoiava o moleskine amarelado nos joelhos 
ia fazendo esboços, era um pedaço seu 
tracejado em finas linhas tortas.

Eram mimos pra te fazer ver, te fazer sentir, 
já que falar era um bocado difícil para ela.

Mesmo não achando palavra exata na hora certa, 
tinha tantos meios pra se virar do avesso, 
e eram tantos que a realidade chegava a transbordar pelos olhos.

E naquele dia cinza em que o sol parecia amofinado, 
se pegou tão desastrada que já não sabia o que desenhar. 
Cabeça toda em branco, mente vazia embora tivesse o coração cheio.

Como se fosse cachorro querendo deitar no tapete da sala
ela dava voltas, rodava a ponta do lápis. 
Formando círculos.

E logo a idéia veio.

Puxando um traço embaixo dos pequenos círculos, 
rabiscando pequenos fios, algo leve e infantil, visualmente doce.

Lá estava, eram balões.                                                                             

E talvez indicassem mesmo o que muitas vezes tinha medo de colocar em palavras, 
mesmo que isso tudo aos seus olhos sejam simples bexigas de gás.
Para ela tinha significância.

Indicavam com precisão as vontades escondidas, 
dessas de quando os sonhos se acumulavam, querendo tanto virar verdade.

Ia espocando os balões cheios de mágoa, enchendo um por um de gás hélio. 

Respirava fundo à beça, tentando falar com outra voz, 
pra te fazer escutar ao menos desta vez. Tentativas.

Escreveu teu nome no último balão e soltou. 
Vez ou outra ainda espia pela janela pra ver se um dia volta.
Liberdade

Coisa bonita de imaginar mesmo é a vida da gente feita de sorrisos francos 
e de passadas largas, como nos desenhos.

Mas como sorrir se nos desenhos em que se auto retratava 
os personagens raramente tinham boca?

E quando a perguntavam o porquê, vinha com a resposta na ponta da língua: 
‘A menina não tem boca por não saber dizer tchau. ’

Não se cansava de dizer isto todas as vezes em que era questionada.
Mal sabiam todos que se tratava dela mesma, 
bem escondida em cada pedaço dos desenhos.

Mesmo desprovida de ‘boca’, não vá pensar que não havia jeito de sorrir.
Nas horas em que a felicidade era tamanha que parecia não caber em lugar algum, 
os olhos rabiscados em seus personagens faziam todo o papel.
Nada convencional. E ela sabia.

O que lhe faltava na verdade eram modos, 
já que além de não saber organizar palavras e dizê-las 
ela se enrolava toda no quesito ‘despedida’, com a palavra ‘saudade’.

E todas às vezes tracejava uma série de coisas, pequenas ou grandes. 

Ia se prometendo assim um amanhã tão lindo e sossegado 
que ficariam guardadas ali alegriazinhas emprestadas que durariam até hoje.





(Agradecimentos especiais ao Brê : Deletando Palavras Digitadas , um amigo mais do que querido que me deu a idéia das bexigas de gás , e fragmentos de coisas escritas pra que eu  montasse o poema).

domingo, 16 de janeiro de 2011

Ela por ela mesma .

Café preto,uns tecidos para modelar espalhados pelo chão,
algumas idéias e muitos detalhes.
Muitos livros pra ler. Pouco tempo.
Direito e Letras, corre pra lá, corre pra cá.
Bolinhos de arroz após o jantar.
Duas réguas para te medir,
um molho de chaves para nos trancar,
vários pincéis para pintar/colorir.
Um estilete para nos separar.
Meia duzia de sonhos, meus,seus,
e os que encomendamos na padaria da esquina.
Bolo de milho, família reunida na sala, alfajores.
Domingo a tarde, bala kid's, filme, brigadeiro de panela com pipoca.
Rádio tocando ''Her morning elegance'' do Oren Lavie.
A arte de sorrir com os olhos.
Ficar na ponta dos pés,equilibrar à mim e a todo o resto,
segurar firme pra não deixar cair.
É, exatamente isso tudo e mais um teco.
Prolixa,insistente, boba e crônica .
Sou uma pitada de açúcar em meio a confusão.