quinta-feira, 31 de março de 2011

Puro simulacro.




Vem , chega mais perto. Me arranha, se encosta em mim. Me consome e depois some do mapa como de costume. Assim é agora e foi todo o sempre. Na ilusão do que é hoje ou do que era ontem, sem previsão de tempo ou conjugação de palavra você vem e me gasta cada vez mais, até não sobrar nada, até que não reste qualquer caco de mim que te corte e te cause algo, te provoque espasmos e te faça sangrar.

Eu ainda espero em silêncio. Resposta de pedra, feito aquelas que você jogava na minha janela tentando me fazer acordar. Quebrando alguns vidros, estilhaçando todos os elos, gritando meu nome bem alto, me dizendo qualquer bobagem nunca dita.
Tome, leve essa dor com você. Nada mais me faz enganar, nem esses seus olhos rasos de promessa, porque eu sei que não se demora, cê vem e me atiça, provoca uma sede que nunca finda e me faz querer chorar aquele choro preso louco pra querer sair e te buscar onde estiveres, interrompido de soluços, ininterrupto de saudade.
Não me venha com essa. Não gaste todas as mentiras antes do jogo acabar, guarde-as no bolso, ouça o que eu digo. Retire esse pó , bata os pés antes de entrar em mim. Eu finjo algum ronco, de olhos cerrados pra não te ver sair. Nada mais dá pé pra nós, fim da linha. Vai, apaga essa luz antes de ir mas não deixe que o vento tranque todas as portas. 
Não perca mais tempo menina, não me faça ferida. Vai logo te embora.

domingo, 20 de março de 2011

Sobre verdades expelidas e feridas alcoolizadas no papel.



Quase imperceptível.
Um pingo de gente no meio da calçada, fazendo hora ,rabiscando qualquer coisa num papel. Rasgando madrugada de novo, na espera de quem nunca veio chegar.
Cidade toda vazia, a cabeça explodindo, pessoas cheirando a desinteresse , copos cheios, cigarros acesos e almas pequenas demais. Era o que ela via por detrás da tela , por detrás do vidro , por detrás de si.
Tão perdida, a tresloucada sufocava com a corda bamba em que andou toda a vida. Em alguma hora seria engraçado imaginar o fim.
E eram tantas perguntas sem resposta alguma, eram palavras carregadas de ironia, série de desistências, um rio de frustrações. ”Pessoas de merda , is all the same shit”, estampado em letras garrafais a três porradas na parede do cérebro.
Era início de quarta, e queria poupar o que ainda restava de sanidade pro resto da semana, se contasse duas gotas no fundo era muito. E sabia.
Passava por aquele mesmo processo quando chegava em casa, metia o dedo na goela e vomitava tudo no papel.Todas aquelas letras caindo tão ácidas na beirada, formando fila, querendo sair. 
Ia vomitando verdades na direção contrária.
Uns liam três vezes ou mais tentando entender, sempre assim. 
Escrevia por não encontrar modo melhor de amenizar o enjôo que viver às vezes causava, como se fosse necessário emprestar o peito de alguém,já que a dor era muita pra caber só no seu.
Pimenta ardida nos olhos alheios, letras que saem quentes, verdades vomitadas, chame como quiser.
O que ela tinha era uma ferida aberta, daquelas que quase um mundo tem mas não faz questão de ver pra não ter que sentir. 
Já não tratava, não usava vista grossa ou pomada.
Vez ou outra passava a mão em cima, cutucava. Jogava álcool pra gritar e arder. Latejando e se sentindo viva.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Meu ingrediente intimista









Está chovendo e eu gosto. 
Já não me importo mais em ser do avesso
Doce demais de enjoar, pesada demais pra carregar,
Um osso duro a beça de roer.
É que vou tão além de um amontoado de palavras, 
eu não sou só estas letras. 
Preste atenção.

Continuo a menina  teimosia, bobalegre, o meio metro de mulher.
Coraçãozinho sem freio nem portas, e a minha mania estúpida de não saber fechar.
Quebra cabeça de mil peças no escuro. Ninguém sabe montar.

Continuo não sabendo lidar com essa urgência toda que sou,
mas já não consigo escapar de mim, do que me molda, e já nem quero.
Desaprendi a correr dos fantasmas que moram comigo, 
dentro da cabeça, por debaixo da cama ou arranhando os discos.

Pequenez no tamanho apenas, e você sabe. Sou leitura difícil de fazer.
Eu sei que é de causar rebuliço , receio nos outros em primeiro contato.
Esse papo de bicho grilo, essa vontade incontrolável que tenho de sabe-se lá o que.

Não sei enganar, nem a mim nem a ti.

Acredite no que eu digo, tenha certeza .

Sou mais do que seus olhos conseguem ver.