quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Palavras (des)dobradas.








E o que me importa encostar na palavra vizinha, se o esbarro não for proposital?
E se for, amor?
Quanto será que nos custa o atrevimento de esbarrar?
Pra quem mesmo que importa?
Será um (des)caminho soltar esse sim no nosso quintal?

O que será que tem de errado nos meus olhos de cansaço,
por nunca terem deixado, de caçar palavra no castanho lar dos teus?

Os anos atropelaram expectativas passadas,
e o nosso amor escapou na contramão.
São e salvo, desencadeando uma série de (des)encontros, até aqui.
Teus olhos desencardem as máculas espalhadas na minha sala-de-estar-só.

Haviam crostas de poeira e exaustão, da minha mesa até a cabeceira,
antes da proximidade das tuas mãos.
Antes da tua respiração se confundir com a minha,
e conseguir aspirar velhos medos entocados.

Chegou há tanto tempo, ainda vivo e escancarado esse nosso amor.
Ficou sem pressa, sem ter pavor, de conhecer esses úmidos porões trancados.
Fazendo questão de encontrar as chaves perdidas na bagunça que sou eu.

A vontade que a gente calça é suficiente pra andar além da calçada,
sem receio de sair pisando nos dias mais sem graças.
Esticar os dois cantos da boca que quer ficar grudada na tua,
sem se importar com a ponta da língua cortante de quem só sabe falar mal.
E continuo a dizer baixinho, no pé do teu ouvido,
tudo quanto sei que gostas de ouvir.
Só um aviso aos que se recolhem dentro de si:
O amor é mais do que se acomodar por auto proteção.

Acho que preciso de um quarteirão inteiro de paredes brancas,
pra rabiscar todos os versos que guardei pra nós.
Tenho colecionado notas mentais.
Tudo tem pulsado, desde a hora que acordo até a hora em que vou dormir.
Não deve ser nada grave, mas toma conta de mim.

Parece até jura um por um dos teus modos,
desde o teu andar até teus olhos.
O desequilíbrio que me causa sustentar meu próprio corpo,
só pra te ter como desculpa, te fazer me segurar por mim.

Eles dizem que jurar é pecado,
mas continuo jurando por tudo o que for mais sagrado.
Ainda caço qualquer palavra que caiba entre as peles,
faço relicário na ponta do abismo de existir.
O perecível vai embalar cada letra no comprido do tempo,
com pretensão de nos guardar.
Perpetuar o espaço cuidado da minha vida na tua.
Sem obrigação de ter sentindo.
Sem amarras porque voa.
Sendo mais continuidade e menos fim.

sábado, 11 de agosto de 2012

Na rua da saudade não existe contramão.





Tô naqueles dias de revirar arquivos infinitivamente pessoais.
Remexendo o misto de saudade e amor,
Pra ver se consigo dissolver a falta que fica no fundo.
Essa falta que acho ser de pedra.

(Re)ver sorrisos divididos, caretas, 
birras e choros de felicidade ou não.
Tudo assim, congelado.
Mas nunca frio.
Pra que ainda possa nos esquentar por dentro, só de lembrar.
Caber no tempo.
Até porque ainda tem muito amor pra colocar lá dentro.
E a gente sabe que amor nunca pode ser demais.

Nos intervalos apressados entre um ano e outro,
o salto do consolo é a certeza de que a gente ainda se tem.
E ainda dizem que a única certeza que se tem na vida é a morte.
Se for mesmo assim, tenho duas.
Sou sortuda, sempre achei.

Guardo nossa presença com gosto de sorvete,
numa caixa de cartas e flores azuis.
Onde me trouxeram pelúcias e um gato.
Naquele aniversário, 
acho que nunca fui tão feliz.

Continuo cabeça dura de coração mole.
Mania de guardar detalhes.
Basta ler pra saber.
A diferença é que agora aprendi a assumir.
Encontrei nossas memórias acordadas num mundo que não cabe em caixas. 
E saí correndo pra escrever aqui.

Estamos sempre a um telefonema de distância.
Mensagens no meio da madrugada.
Visitas cada vez mais raras,
Encontros em que sempre tem um que vai faltar.
Palavras soltas giram ao redor da minha boca.
Fico tonta com tanta coisa que tinha pra contar.
E só um pensamento me ocorre.
O que seria o espaço entre dois pontos,
pra quem se cruza por acaso no meio da rua,
como quem nunca deixou de se ver todas as manhãs?