terça-feira, 27 de abril de 2010

Sonho.




Te contei?
Que sonhei com você.
Que te encontrava na rua.
Assim, do nada, no meio de todos.
E parava.
E olhava.
E sorria.
Retribuía aos olhos teus.
Enquanto os outros me diziam que era um absurdo.
Que jamais deveria eu conversar de novo contigo.
Nem dar-lhe ouvidos.
Que deverias pagar por todo mal que nos fez passar.
Te contei?
Que foi um pesadelo.
Desses que depois a gente se pergunta
será que foi verdade?
Pegava-te pelo braço, como fazia de habito.
Te encarava sem medo.
E perguntava algo sobre sua felicidade.
Você me respondia com um gesto sincero.
Eu disfarçava.
A gente se abraçava.
Assim, como se não houvesse mais rancor entre nós.
Como se não houvesse mais espaço
para este tipo de sentimento.
Ou tivéssemos nos curado.
Com o tempo.
E que naquele momento
só desejássemos coisas boas um ao outro.
Te contei?
Que no meu sonho você me parecia
melhor do que realmente é.

sábado, 17 de abril de 2010

Abala-me



 Você
O Haiti.
Os políticos.
As histórias que vejo na Tv.
A chuva castigando a cidade.
A falta de compreensão entre nós.
Falta de afeto.
Meu tanto faz.
Nosso faz de conta.
As contas.
1/3
Folha de São Paulo.
Sapatos que machucam meus pés.
Fome.
A reforma .
Os filmes.
As pessoas que moram na nossa rua.
Saudade da minha família.
As vantagens de estar onde estou.
O peso.
Minha escrivaninha.
O vinho tinto.
A droga da gaveta.
O tempo e a falta que ele me provoca.
O amor.
Diálogos entre pais e filhos.
Um domingo qualquer no parque.
Silêncio.
As garrafas pet boiando no rio.
Planos.
Impaciência
As cobranças de todos.
As poucas horas de sono.
Sexo.
Música nova.
Pernilongo.
Arte.
Imagem.
Trânsito.
O sol fazendo-me sardas.
Desfarces.
Quando me calo.
Quando não fala.
Preguiça de viver o que é previsível.
Nenhuma vontade.
1001 oportunidades.
Seu mundo.
O teatro das boas maneiras.
Facilidades.
As eternas conversas comigo mesma.
Descontos para os outros.
Curiosidade.
Livros intactos na estante.
Os excessos.
Sofro com eles.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Disposição ao engano.




Para caminhar ao seu lado foi preciso aprender outro ritmo.
Suas pernas muito maiores,ensinaram a correr.
Dificil,apesar do alegre compasso.
Mais alto,mais largo.
Prazeroso amor,quase delinquencia.Aconteceu assim,sem querer.
Num domingo,descendo a rua.
Que idéia foi aquela que funcionou?
Era outono,e o vento no rosto enxugou as lágrimas.
Abriram seus olhos.Libertos.
Para acompanhá-lo.

Desde então,teve que fazer os olhos,
preguiçosos que eram,percorrerem mapas de geografia
Matéria ignorada por ela desde o início de vida escolar.
Olhos estes jamais navegados pelos caminhos por onde andou
Não se assustou,nem deslumbrou, 
e por vezes,reunidos,achou chato.
Um porre.Um saco.
Mas calou.

Seus olhos sempre estiveram por demais ocupados com detalhes.
Desde os oito,os olhos dela eram viciados em estantes alheias.
Adoravam as da pequena biblioteca do colégio em que estudava.
Percorria-as através de suas cores,
até o lugar mais alto que podia enxergar.
De óculos escolhia,apontando para o alto.
Pequena e dona de grandes dores de cabeça,
recomendaram-lhe óculos para descanso.Puro engano.
Jamais descansou com eles.
Esta parceria não levava à regalias.

Literatura ou filosofia.
Na era dos óculos, ela se desafiava o tempo inteiro.Virou hábito.
Começava escolhendo sempre o livro mais difícil de alcançar.
De ler,folhear.Sem preguiça.
Esqueceu dos clássicos.Ignorou ''Polyana'',
mas ''O Bichinho da maçã'' lhe fora inesquecível.
Por isso não houve à eles,os óculos,falta de lazer.
Nem à ela.Nem aos óculos.Nem viagens.
Muito menos histórias para contar.
Mas como explicar estas diferenças de olhar entre eles?

Ela e ele.Ou o que fazer com elas,as diferenças?
Somar?Multiplicar?Sonhar?
Seriam possíveis,eles,tão diferentes no modo de ver
chegarem à um acordo?

A impressão que fica,é que ela sempre esteve aqui.
Sem sair do lugar,aguardando ele chegar.
Para contar-lhe com detalhes o mundo do lado de lá.
Enquanto mantem sem disfarces 
os olhos fixos na estante mais próxima.