quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Super reciclando o amor.



 Agora é assim que funciona.
Vamos nos amar, nos conhecer outra vez
como se fosse a primeira.
Nos contorcer, trepar loucamente,
fazer o melhor papai/mamãe do planeta!
Vamos planejar ter filhos, uma casa espaçosa com jardim,
alguns livros incríveis na estante e plantas vivas espalhadas pelos cantos.
Tudo isso em menos de tres anos.
Está de acordo?
Casa comigo que eu te faço o ser mais amado desse mundo.
Mais bem cuidado, protegido e bem alimentado.
Com direito a almoços e jantares. E vinho tinto!
Porque meu bem, faz bem ao coração.

Então vem, casa comigo
e fica aqui em casa por tempo indeterminado.
Te faço café enquanto você invade minha cama,
meu espaço e deixa pedaços seus bem
espalhados por todo canto.
Sua camisa predileta no meu cesto de roupa suja.
Confort.
Espalha tudo, é tudo seu.
O que é meu é teu e eu, bem...
Tenho sido sua todos os dias de todos os anos, invariavelmente.
Aproveita
Relaxa, goza e espalha!
Esparrama...

Assim, se caso um dia for embora
não será capaz de se recolher por completo.
Deixando à mim lembrancinhas suas
que de início me causavam desconforto,
mas que desde aquele dia no meio da rua,
na chuva, tem sido uma constante.
Desde então joguei todo o desconforto no lixo da cozinha.
Sem rancor algum.

Mas vem cá. Casa comigo. Nada de medo.
Não faça como a maioria, não fuja de envolvimento.
Quero todas as nossas fotos espalhadas pela casa,
vou me livrar daqueles lençóis
com nossas marcas e mágoas maiores que nós.
Nada que não se supere, nada que não possa ser reaproveitado.
Porque três anos não são três meses. Você sabe.

Somos adultos agora, os planos são outros meu bem.
Maiores e melhores.
Então vem.
Me ama.
Me aborrece.
Se encosta em mim.
Eu as vezes reclamo, mas no fundo gosto.
Te disse.
No ouvido.
Noites atrás.

Quero me dividir contigo,
e quero isso pra ontem.
O quanto antes. Já.
Vamos nos encher de amor, feito bexiga de gás.
Planejar.
Traçar tudo com papel e caneta.
Fazer tudo como tem que ser.


Temo saudade.
Tenho.
Somos tão bem resolvidos agora que tenho estranhado.
Mas não reclamo mais, apenas comento.
Desde o início avisei que não queria, te querendo.
Lembra?
E parece que foi ontem.

Voltamos tão cheios de experiência e maduros.
Tão duros que tenho medo de que possa vir a perder a doçura.
Eu e meus medos.
Loucura.
Esqueça minhas neuras.
Só se ligue no bom de nós dois.

Emendando um amor no outro.
Vamos Super reciclar o amor
Sem mágoas passadas.
Nos passamos a limpo.

Vem agora, casa comigo.
Insisto.
Te chamo.
Garanto.
Vem!





quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A gosto.




Estive lembrando daqueles dias de agosto mais uma vez. Dias que assim como eu andavam quase parando. Sim, no intervalo daqueles dias havia um ''quase'', porque apesar dos pesares nada era em absoluto estático e eu ainda tinha vontade de continuar.

Embora tenha sido um mês passado como todos os outros, percebo que ainda fico atravessando agosto por agosto como quem atravessa na ponta dos pés um meio fio entre dois prédios absurdamente altos. Cerrando os olhos. Respirando fundo. Tentando manter o equilibrio entre uma coisa e outra.

Lembro que o ar daqueles dias era denso e teu silêncio tambem. Fora o ar e por vezes a própria falta dele, lembro que escrever naquele tempo já não era um hábito e sim uma necessidade, assim como comer e dormir. Sim, eu sei, acho que atravessando aquele agosto endureci um pouco.

Sei que posso ter endurecido porque ouvi algumas pessoas comentando algo bem baixo atras daquela porta. Era sobre mim. Sobre quando uma pessoa qualquer como eu, você ou aquele outro se permite endurecer e nem sempre o resto em volta tem de ser obrigado a permanecer ali até que tudo acabe. Era algo sobre dar espaço, ter mais paciência, viver, se doar, se doer.Como se a minha existência fosse uma denúncia na boca dos outros.

Falar sobre o próprio vazio sem ter dosagem é como ver a plateia de um talk show desinteressantissimo exalar tédio e babar de tanto dormir. Por isso escrever alivia bem mais, o papel não é feito de carne. Nós somos.
 
Lembro das vezes em que resolvia sair daquela casa. Tinha a impressão de que as pessoas - não todas, mas algumas delas - brilhantavam vontades, reluziam vida. Deboxadas. Enquanto por detras daquela porta no espelho que cobria a parede, eu ficava em pé por horas buscando uma faísca qualquer de continuidade, por menor que fosse. As vezes eu chegava a ver, outras não. Eu era opaca . Quase verde musgo. Sem brilho.

Eram dias sujos, eu sei.