quinta-feira, 8 de julho de 2010

Intoxicação sentimental alimentar.






Quando sonho sempre me vem um gosto. 
Não de amor, menta ou saudade. 
Sabor acre, enjôo, dor pungente de estômago vazio, 
não me alimento das lembranças, não me satisfaço mais de você.

Quando muito, uma ninharia agridoce de rancor me ataca, 
o amargo se torna forte, o melífluo não chega a lugar algum.

Como se fosse fruta verde, a língua reconhece, distingue, 
arrebata no apertar da boca, o ranger dos dentes, 
travamento completo da mandíbula, endurecimento do coração.

Quando sonho com você não há lugar para o surreal, 
não possuo asas, borboletas não se transformam em dragão. 
Apenas a realidade dominando o onírico, eu de um lado, 
você do outro, quando queremos muito mudamos de calçada
é pedida a permissão, sem o atrevimento da palavra 
a própria presença estabelece o cumprimento, determina a distância.

Na fabricação do litígio entre estranhos conhecidos, 
o olhar preso por três segundos é intimidade desnecessária, 
proximidade a ser ignorada.

Quando sonho com você desenvolvo ânsias precárias, refluxos eufóricos, 
vomito as palavras-resíduos que me forçou a engolir. 

sábado, 3 de julho de 2010

Apenas me deixe monologar informalmente.



Não sei moço, mas prefiro ficar.
Acho que sou louca demais pra viver em um lugar onde a correria seja acima da daqui.
Não sei não moço, mas quero paz, não como Los Hermanos cantou,
mas quero do meu jeito, paz com outro conceito.
Um emprego basta, não quero mais dois, preciso de tardes lentas pra eu voltar a escrever.
E essa faculdade tolerei por dois anos, mais alguns acho que nem faz mal.
Não sei moço, mas talvez minha cabeça só funcione aqui.
Não quero todas as festas prometidas na antiga capital,
quero ser monótona, quero amar de modo unilateral .
Mas diz aí, me ajuda. Me explica, isso é insanidade ou mudança?

Não, nem me fale em mudar.
Não quero, está decidido.Eu preciso parar.
Quietar num sossego que nunca em mim realmente existiu.
É velhice? Crendice de terceira idade mental? Não sei rapaz.
Apenas sinto que já não penso mais em partir.