quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A gosto.




Estive lembrando daqueles dias de agosto mais uma vez. Dias que assim como eu andavam quase parando. Sim, no intervalo daqueles dias havia um ''quase'', porque apesar dos pesares nada era em absoluto estático e eu ainda tinha vontade de continuar.

Embora tenha sido um mês passado como todos os outros, percebo que ainda fico atravessando agosto por agosto como quem atravessa na ponta dos pés um meio fio entre dois prédios absurdamente altos. Cerrando os olhos. Respirando fundo. Tentando manter o equilibrio entre uma coisa e outra.

Lembro que o ar daqueles dias era denso e teu silêncio tambem. Fora o ar e por vezes a própria falta dele, lembro que escrever naquele tempo já não era um hábito e sim uma necessidade, assim como comer e dormir. Sim, eu sei, acho que atravessando aquele agosto endureci um pouco.

Sei que posso ter endurecido porque ouvi algumas pessoas comentando algo bem baixo atras daquela porta. Era sobre mim. Sobre quando uma pessoa qualquer como eu, você ou aquele outro se permite endurecer e nem sempre o resto em volta tem de ser obrigado a permanecer ali até que tudo acabe. Era algo sobre dar espaço, ter mais paciência, viver, se doar, se doer.Como se a minha existência fosse uma denúncia na boca dos outros.

Falar sobre o próprio vazio sem ter dosagem é como ver a plateia de um talk show desinteressantissimo exalar tédio e babar de tanto dormir. Por isso escrever alivia bem mais, o papel não é feito de carne. Nós somos.
 
Lembro das vezes em que resolvia sair daquela casa. Tinha a impressão de que as pessoas - não todas, mas algumas delas - brilhantavam vontades, reluziam vida. Deboxadas. Enquanto por detras daquela porta no espelho que cobria a parede, eu ficava em pé por horas buscando uma faísca qualquer de continuidade, por menor que fosse. As vezes eu chegava a ver, outras não. Eu era opaca . Quase verde musgo. Sem brilho.

Eram dias sujos, eu sei.



9 comentários:

  1. Passear pelos agostos trouxe ar de lembranças... E a percepção de que a faísca pode, sim, tornar-se foqueira. Principalmente quando a chama, mesmo que fraca, é intensa e genuína.
    Dias sujos que já se tornaram um passado distante. Buscar o brilho daquele sorriso e não ter, agora ficou para trás. O bom é saber que a felicidade voltou a fazer dos dias vazios o preenchimento colorido e ardente.

    *-*

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  2. Ai que lembranças essas...
    o Ruim é sempre reviver essas lembranças, e saber que elas não podem voltar mais. :/

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  3. vc some, mas quando volta, olha...
    mexe com a gente!

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  4. E daquele agosto, eu prefiro nem mais lembrar...

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  5. São dias difíceis, doloridos e que parecem sempre reservar algo mais no fundo, denso. Algo como o "último lance" para nos dar quando acreditamos ter atravessado a ponte por inteiro.

    Compactuamos da mesma ideia em relação ao seu comentário no meu post.

    Beijo, querida.

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  6. Vez ou outra a gente se fecha assim mesmo, com medo do que possa vir e que seja forte demais pra abrir umas feridas novas pra nossa coleção e quem sabe até fazer doar as já fechadas, não curadas, só fechadas. Dias inverno, espera que o verão chega.
    Adorei as tuas palavras, são belas, mesmo quando cheias de dor. Um beijo.

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  7. Texto lindo, até demais. O inverno me causa a mesma sensação, parece que os meses de junho/julho são demasiado mais complexos do que os anteriores e seus consequentes. Beijos :*

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  8. Adorei o texto especialmente esse trecho: "Por isso escrever alivia bem mais, o papel não é feito de carne. Nós somos". Tão real.

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