quinta-feira, 20 de maio de 2010

Maré baixa transborda um corpo meio vazio.

Olhos iguais ao horizonte do mar, 
rasos d’água salgada.
Ríspido respinga a lágrima.
E o sol, sal seca. 
Transformando tudo em livros de areia.
Em palavrinhas ao vento.
A solidão experimentada 
pela primeira vez aos vinte e oito*.
Antes evitada.
Evitando a si mesma.
Porque foi mais fácil viver assim.
Enchendo-se de nada e ninguéns.
Momentaneamente, 
ele não lhe serve, 
nem lhe faz muita falta.
Não correria este risco.
Escolheu seus vazios a dedo.
Tocando as texturas 
do que hoje é nada.
Pêlos.
Restaram coisinhas tolas.
Ela não se reconhece.
Mas procura a conexão em banda larga.
Porém, nada mais a toca. Não há som algum.
Em cada esquina padrão.
Transita.
Querências.
Nos cinemas 
que prefere ir bem desacompanhada.
Sabe que uma mulher como ela 
não pode viver só de pão de queijo.
Nem da cerveja sem jantar, 
seguida de oito cafezinhos 
puros com adoçante.
Cinco gotas. 
Um mojito para viagem.
Bem maquiada pra não desmaiar e 
sorrindo porque alertaram, 
esta é sua vingança.
Tem facilidade para verbalizar os sentidos.
Dificuldades para respirar.
Portando, trava-se aí a primeira batalha.
Falar e respirar. Respirar e falar.
Contra também a ansiedade. 
Acelerada por nada.
Faz restar o nada, 
as dúvidas e por que a pressa?
Achava que não tinha problemas com rejeição.
Este sentimento de todos, qualquer um.
Mas tem! 
Sentiu envergonhadamente. 
Percebeu dias atrás. 
Que ama sucrilhos com leite, 
danoninho e toddynho.
Pequenos prazeres.
Tem a estranha mania de falar tudo no diminutivo.
Diminuindo coisas grandes. Inclusive emoções.
Deixando tudo do seu tamanhinho.
Ao seu alcance.
Na altura de suas mãos, 
na largura de seus passos atrasados.
Tem se perguntado, onde estava que 
não ouviu aquela música na adolescência?
O que lia que não aquele livro?
Por onde andava que não naquela rua?
Tem se enchido de dúvidas 
e telefonemas mudos.
De mensagens que vão 
e não precisam de respostas.
Que se perdem como ela.
Tem se lotado de informações 
que geram ainda mais dúvidas.
Para que servem?
Tem querido ser querida, 
mas sem querer, querer ninguém.
Vale?
Olhar o horizonte do mar.
Lembrar da canção de ninar 
que mamãe cantava para ela.
Do um pequenino grão de areia, 
sonhador que se apaixona por uma 
estrela e vive uma história de amor.
Acha lindo. 
Desacredita.
Faz os olhos transbordarem.
Do sol, saldo vazio, da ansiedade de ninguéns. 
Algumas dúvidas apressadas, 
dos poucos pequenos prazeres no diminutivo, 
um livro de areia de palavrinhas ao vento, 
do grão um sonho ou pesadelo. 
Toda história de amor tem final feliz?
Então não era amor.

11 comentários:

  1. Nem tudo termina com beijos

    gostei do texto
    Falar e respirar. Respirar e falar.

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  2. Nossa, muito bom. E o ritmo foi certinho, não tinham muitos breaks. Parabéns

    beijos

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  3. Nunca precisou ser amor,

    adoro muito seus textos :D

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  4. Me enxerguei em muitos trechos...coisa boa!
    abços

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  5. muito legal o texto.

    Hum... a adjetivo do "fim"[?], sempre depende de um ou de outro ponto de vista... suspeito.

    :P

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  6. Se não não era amor, era o que então?


    São cada vez menores as estatísticas de histórias de amor com finais felizes.

    Mas eu ainda sonho.



    Um beijo

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  7. "Toda história de amor tem final feliz?
    Então não era amor."



    Como sempre, escrevendo divinamente, hein. Amei essa parte, me fez refletir um pouco. :)

    Um abraço bem grande, flor. Ótimo fim de semana. ♥

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  8. " Do um pequenino grão de areia,
    sonhador que se apaixona por uma
    estrela e vive uma história de amor.
    [...]

    Faz os olhos transbordarem.
    [...]


    Toda história de amor tem final feliz?
    Então não era amor".


    Muiitolindo!
    Talvez tenha eu chorado, porque transmite o que sinto..explicado as lágrimas salgadas que eu fiz tu provares?
    saksoaksoaksoaksoa

    sérioo..tu escreves muuito bem!
    Bj

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  9. "Momentaneamente,
    ele não lhe serve,
    nem lhe faz muita falta.
    Não correria este risco.
    Escolheu seus vazios a dedo.
    Tocando as texturas
    do que hoje é nada.
    Pêlos."

    Caramba, como é que pode hein, a gente ler no outro o que tá na gente? Adoro tuas palavras, são lindas e bem postas...
    Parabéns!

    :)

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  10. Bello, delicioso, cativante, como a autora!

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  11. Consegues transformar tudo em algo bom de se lê.

    acid. diz:
    *Sou a tua página em branco.
    *rabisca em mim?
    *...

    sabes bem qual a resposta.
    te amo muito, minha menina, meu melhor. (L)



    p.s: Esse moço ai de cima é tao oportunista!

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